quarta-feira, 18 de março de 2009

"EU, O SABIÁ E A FIGUEIRA"

Frondosa figueira, árvore antiga
galhos longos, copados, a balançar
pousado entre as folhas, na sombra amiga
um sabiá, à tardinha, vem cantar.

Eu venho também, mas cantar não venho
à tardinha eu venho só para escutar
pois infelizmente eu não tenho
o dom sublime de cantar.

Cantaria, como o sabiá, se o dom tivesse
à minha amada, como a dele ele canta
subiria no galho mais alto, se pudesse
dessa figueira linda que me encanta.

Na carência que tenho desse canto
pois da voz maviosa sou carente
penso, pois pensar eu posso no entanto
recostado neste tronco docemente.

Ao som suave da voz do passarinho
fecho os olhos e nela penso agora
enquanto no galho o sabiá sozinho
chama a amada que foi embora.

O sabiá entoa um canto de saudade
enquanto no horizonte o Sol se punha
somos dois chorando a realidade
e a velha figueira por testemunha.

O sabiá pousado canta de tristeza
é a sua maneira de poder chorar
já minhas lágrimas não tem beleza
pois choro sem saber cantar.

Eu, o sabiá e a figueira
temos um pacto natural de união
e à tardinha, pela vida inteira
choramos juntos a nossa solidão.

RUI - Mar/2009

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