quarta-feira, 21 de julho de 2010

ANSEIO


Lágrimas de chuva percorrem minha face
sulcando-me a pele com dolorosa calma
são gotas de uma saudade que nasce
nas duas janelas da minha alma.

Chuva de lágrimas escorre pelo vidro
esfriando-me o corpo ainda inerte
imerso nas histórias de dentro
do tempo que não se inverte.

Transcorrendo numa única trajetória
desde o íntimo desnudo do meu ser
trazendo insossas partículas da memória
pelas cacimbas que não param de verter.

Decorrendo em infantil escapismo
horas de desassossego e dor
auto-piedade e inconformismo
querendo trazer de volta nosso amor.


Anorkinda Neide & Rui E L Tavares

(20/07/2010)

DEPOIS DA CHUVA II

Finalmente
a chuva parou,
não chove mais.

Agora é abrir as janelas
e deixar entrar o Sol
que vem atrás...

Esquecer as sequelas,
juntar as mágoas molhadas
e estendê-las para secar...

No varal do presente,
ao Sol da esperança,
para que possam sarar.

A chuva lavou mal feitos
e regou o chão
com novas ofertas.

Plantemos então a paz
fechando para o futuro
as cicatrizes abertas.

Rui E L Tavares

(19/07/2010)

domingo, 18 de julho de 2010

ROSA TRISTE


Rosa, tuas pétalas
são tuas vestes
que te cobrem a nudez
ao olhar do pecador.

Galhos de ciprestes
que pendem da excelência
e se curvam respeitosos
à tua aura de flor.

Rosa, casta da regência,
haste mor do jardim.
Por que amanheceste tão fechada,
tão magoada assim...?

Amada flor preciosa
lembra-te que és a rosa,
não precisas ficar tão triste
querendo ser igual a mim!

Rui E L Tavares

(18/07/2010)

MANHÃ SUAVE

Menina delicada, pura
vestida de luz, segura
pela mão da aurora.

Nasce no Sol que desponta
e logo se apronta
na primeira hora...

Vem maquiada de vida
e no céu, flor concebida,
dança com o dia.

Manhã suave, Paraíso
veste-se toda de sorriso
e perfuma-se de poesia...

Acordando este meu verso
que à noite ficou disperso
nos sonhos e dissabores.

Manhã suave, banhada de luz
pega minha mão e conduz
à mão de outros amores!

Rui E L Tavares

(18/07/2010)

"DECEPÇÃO"

Eu vi o Sol brilhar depois da chuva,
depois da noite, eu vi o dia;
vi a rosa queimada da geada
despetalada, morta pelo chão.

Não só vi, mas também senti
ruir meu castelo de ilusão,
pela ação de vento traiçoeiro,
como fraco monumento de areia.

Vi a cor da falsidade, da traição
nas entrelinhas dos textos descarados
condutores de promessas veladas
à perfídia, à luxúria e a mentira.

Ouvi vozes falsas, sons enganadores,
li verso explicativo mas desconexo
justificando a troca da sinceridade
pelos prazeres que advém do sexo.

Escrevi sem rimas, ...elas fugiram
diluíram na lágrima que brotou...
De tudo que vi, senti e triste escrevi,
um amargo vazio foi o que restou!

Rui E L Tavares

(18/07/2010

PEDIDO CERTO...

Fosse-me dado o direito de pedir
da vida, o que da vida eu conheço
teria que ser consciente, refletir
para saber, de fato, o que mereço.

Às vezes acho que mereço tanto
outras tão pouco, ...penso;
na verdade eu não sei o quanto,
avaliar-me é puro contrassenso.

Mas mereça ou não,...algo que venero
pediria, sendo bom ou mau pensador;
aliás nem sequer pensaria, ...eu quero
viver contigo o mais louco amor!

Rui E L Tavares

(17/07/2010)

VEJO POR MEU PENSAMENTO...


Meu pensamento vê, tem visão
minha visão pensa, tem pensamento;
meus olhos seguem a direção
onde meu pensar vive o momento.

Assim, portanto, imagens posso vê-las
posso cristalizar como certo
basta pensar longe,.. vejo estrelas
se em flores penso, as vejo perto.

Penso em tudo e é sempre assim,
basta pensar, por meus olhos vejo
a criação do meu próprio jardim
ao sabor do meu íntimo ensejo.

Porém, meus olhos preciso fechar
pensando para ver o meu amor
pois só a consigo enxergar
olhando para o meu interior!

Rui E L Tavares

(17/07/2010)

NOVO DESTINO

Caminho para o Sol poente,
venho da nascente
dos meus primeiros dias.

Trago comigo os pesos
uniformes, coesos
e as retinas, cacimbas vazias.

Pesadas são minhas dores
restos tantos de amores
que no andar deixei.

Retinas, cacimbas que secaram
pelas lágrimas que vazaram
no pranto que chorei...

Vago pelo Sol do meu caminho
condenado a viver sozinho
mesmo sem a luz da esperança.

Meus passos são de ilusão,
minha incerta direção,
apenas fagulhas de lembrança.

Onde o Sol todo dia vai se por
busco também eu, no esplendor
voltar ao brilho de menino...

E com a lágrima renovada,
a pesada carga aliviada,
nascer para um novo destino.


Rui E L Tavares

(17/07/2010)

RAZÕES

Razões sempre tive, mas entretanto
não às libero, retenho-as no peito
pois sei que mostrá-las por enquanto
não surtirá de bom nenhum efeito.

Mas um dia, quando verter-me o pranto
pois segurá-lo não haverá mais jeito
romperei toda magia deste encanto
desde que este amor foi mal desfeito.

Ai saberás da dor que me infligistes
a partir do momento em que partistes
para o mundo da luxúria e maldade.

Condenando meu amor a negra sorte
às trevas vazias,...a própria morte
acorrentado às razões desta saudade.

Rui E L Tavares

(14/07/2010)

CAMINHO DE VOLTA

Somos grãos de areia postos num deserto
oriundos da mesma fonte criadora
que parece estar longe, mas de perto
nos estende uma doce mão consoladora.

Tão longínquo e árido, ...tão profundo
o estágio em que vivemos e essa luz
nos atrai e nos mostra outro mundo
e para ele nesta vida nos conduz.

Vida além da vida, vago horizonte,
centelha que fulgura e como essa
indica a grandiosidade de uma fonte
que reluz em nós como promessa...

Mas não basta crermos em tal premissa
permanecendo na condição de grão de areia
vítimas do ostracismo e da cobiça
que nos envolve nos fios da sua teia.

É preciso buscar nossa origem no criador
pelo deserto inóspito, mas sem revolta
rolando entre as dunas, pelo amor
até encontrarmos o caminho de volta.

Rui E L Tavares

(12/07/2010)

NOITE COM NEBLINA

Os pardais agora já não cantam mais,
o silêncio da noite abraça o arvoredo,
reflexos de luz vêem-se nos vitrais
onde brilham imagens de brinquedo.

Esvanece o dia nas cores do entardecer
fundindo-se à noite e no céu doce menina,
a Lua acanhada espia e começa aparecer
em meio a espessos focos de neblina.

Algumas estrelas cintilam e me conforta
vê-las, nem que não as veja por inteiro,
por um vago vão de alguma porta
aberta na extensão do nevoeiro.

A noite é estranha, tudo parece definhar
desaparecendo na névoa como em magia;
fantasmas do passado vem dançar
aos acordes de saudosa melancolia.

Deixo-me adormecer e sonho na saudade
do verão, do mar, de ti, ...daquela poesia,
varo a noite, a madrugada e a claridade
vem acordar-me trazendo um novo dia.

Rui E L Tavares

(11/07/2010)

"CORAÇÃO DE POETA"

O coração de poeta não bate,
canta
e encanta
sussurrando...

Seduz com voz maviosa,
na inspiração que condensa
quando pensa
pulsando...

Tem alma, transmite
cada espasmo de energia,
gotejando poesia
numa chuva seleta...

Caída em letras no verso,
tingindo caminhos
em pergaminhos
com pegadas de poeta!

Rui E L Tavares

(11/07/2010)

"SONHOS LÚBRICOS"

Sonhos lúbricos são os meus
nas noites frias,
estranhamente vazias
sem os carinhos teus...

Sonho com teus beijos colossais,
com teus suspiros,
com teus giros,
teus pedidos, ...teus ais.

Com tua languidez cedente
na nudez provocante;
sonho com cada instante
da luxúria incandescente.

Nos meus sonhos lúbricos, sou devasso,
busco o pecado e a poesia,
enlouqueço na magia
que descubro em "cada passo".

Na luxúria dos meus sonhos desvairados,
tu és bela ninfa e eu Narciso;
o leito é alcova, é Paraíso,
é ninho de prazer e de pecados.

Rui E L Tavares

(10/07/2010)

sábado, 10 de julho de 2010

SONHANDO...

Eu tive um sonho e nele,
o sonho que tive,
sonhei que vivia
como quem sonha vive...

Num mundo de faz-de-conta.
Ora, também pudera,
nenhuma alma tonta
pode viver de quimera.

Estar na Primavera,
com sorriso doce e terno
enquanto o corpo, que não sonha,
sofre os rigores do Inverno.

Acordei, claro, e acordado,
eu que no sonho estive ausente,
dei um basta no passado
e puz os pés no presente.

Fui viver então, e sonhar,
esse direito eu não enterro...
Mas só de vez em quando,
afinal ninguém é de ferro!

Rui E L Tavares

(09/07/2010)

MIRAGEM


O espelho é um deserto
de pura areia;
uma densa teia
compacta que reflete

Uma nuvem de confete
num afago generoso,
porém mentiroso,
enganador...

Mostra uma flor,
onde nem tem jardim.
Queira quem se olha, ver-se assim
na distorção da imagem.

Verá apenas uma miragem
por sua visão mascarada...
Se despir as vaidades,
não verá mais nada!

Rui E L Tavares

(08/07/2010)

A MOÇA-MENINA NA PRAIA!


Num vai e vem
na deserta praia,
grãos de areia fina
chocam-se na saia
da moça-menina,
soprados pelo vento
num quadro que fascina.

O Sol aquece,
uma gaivota sobrevoa,
o mar bate em cadeia...
A moça-menina, à toa
sorri e passeia.
Seus pés descalços
fazem carícias na areia.

O mar, enciumado,
saudoso das marés,
estende a onda além
como a perguntar: -Quem és?
- Eu sou o mar,
moça-menina,
quero beijar teus pés.

Ela,... a moça-menina,
deixa cair a saia
e num biquini generoso
adentra o mar na praia...
O amanhecer se assanha
tudo parece querer tocar
a moça-menina que se banha!

Rui E L Tavares

(08/07/2010)

ESBOÇO

Na tempestade que se anuncia
nestes flashs de nostalgia
dançam pensamentos...

Aglutinam-se em torno
do solo fértil e morno,
canteiro dos sentimentos.

Então chove, torrencialmente,
no âmago da minha mente,
relâmpagos continuados.

Neles, como em culto
surge um mesmo vulto
com imprecisos traçados...

Tempestade rotineira,
traços de vida inteira
libertos do meu calabouço.

Luz que toma forma
condensa e se transforma
num rosto em esboço!

Rui E L Tavares

(07/07/2010)

SIMBIOSE DE NÓS DOIS

Somos pólos que se atraem
mesmo separados
por obstáculos malfadados
que a vida impôs.

Partes da mesma matéria
dividida em sua essência;
memórias da mesma consciência
que o tempo decompôs.

Somos um, partido em dois
que se procuram desde então
nos sonhos, na encenação,
no palco ou na platéia.

Somos partículas de um destino
no mesmo pé-de-vento;
somos gotas de alento
em amarga odisséia.

Somos nós, ... eu e tu,
duas individualidades
unidas nas saudades
de quando éramos um só...

Mas havemos de nos buscar
até a apoteose....
Então, em perfeita simbiose
voltaremos ao mesmo pó!

Rui E L Tavares

(05/07/2010)

UTOPIA

A mescia que aglutina sons e meios
propagando pelo ar a melopéia
faz vibrar neste tempo sem rodeios
utópicas raízes de uma idéia.

Meros são os aplausos da platéia
que incauta ovaciona, mas alheios
são os entraves de rústica odisséia
no caminho que tolda meus anseios.

Mesmo assim lanço minhas sementes
neste árido solo, em terras quentes
preservando-as de morrer na iniquidade.

E na utopia que me ativa o pensamento
esperarei que o amor nalgum momento
possa germinar na aridez da humanidade.

Rui E L Tavares

(01/07/2010)

TEIA DE VERSO

Sorrateiro... eu diria,
o verso poesia
que nasceu da tua pena...

E a outros se uniu
num Poema que surgiu
onde tua alma contracena.

Cativante,...sedutor
leva-me o encanto do amor
e devora em santa ceia...

Sou teu ardoroso fã
que antegoza o afã
de cair na tua teia.

Rui E L Tavares

(26/06/2010)

sábado, 3 de julho de 2010