Por vezes eu paro tudo
de inopino,
sem hora marcada,
sem destino
e fico a observar.
Qualquer coisa
sem escolher grandeza,
grande ou pequena,
feia ou com beleza
desde que me faça pensar...
Por exemplo, agora chove
uma garoa contínua, molhadeira
e eu, da minha janela,
vejo a folha da bananeira
e um pardal a banhar-se nela.
Então, traço um paralelo
entre nós, eu e o pardal;
ele em liberdade
voa por ai, afinal
vai aonde quer...
Mas eu que lhe observo
molhando-se em tênues gotas
que escorrem pela folha
nos vincos das fibras rotas,
sinto-me preso a uma bolha.
Com ar rarefeito, sufocante
que me oprime o peito...
Vem a inveja do passarinho
pois ele é feliz do seu jeito
e eu não no meu caminho.
Entre nós, um paradoxo,
ele tem nas asas a liberdade;
eu, na cabeça, o poder...
No entanto, ele decide o que fazer
e eu fico preso ao que não fiz.
Ele, ao banhar-se na bananeira
canta a sua alegria
agradecendo à natureza
pela luz de mais um dia,
enquanto choro minha tristeza
por não ser tão feliz.
Rui E L Tavares
(19/04/2010)
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